Já me senti muito frustrada com o conceito linear de saúde ao qual fui submetida quando diagnosticada com diabetes tipo 1, uma doença auto imune, a qual muda sua vida completamente do dia para a noite, não só a sua mas também a da família como um todo.
Lembro-me que a partir do momento que recebi o diagnóstico em 1993, aos 13 anos, tive que passar a viver de uma forma totalmente diferente à qual vivia até então, como por exemplo, tive que, junto à minha família assumir responsabilidades como aplicar doses de insulina diárias, entre 4 e 7 vezes ao dia, mudar a minha alimentação, cortar doces (o que naquela época se fazia necessário), lidar com o medo e o risco de aplicar uma dose errada de insulina e poder vir a ter uma hipoglicemia severa ; e com as mazelas da hiperglicemia, que vêm sempre com uma sensação imediata de desconforto mas que no médio e longo prazo pode trazer muitas complicações sérias de saúde.
Agora pense que após o diagnóstico de tal doença o tratamento prescrito para mim e minha família foram visitas ao endocrinologista a cada alguns meses. Ou seja, uma visita de 45 minutos à 1 hora a cada trimestre ou quadrimestre que “prometia” me dar tudo que precisava para viver uma vida saudável.
Bom, desnecessário dizer, que a promessa não foi cumprida, pois a cada visita ao endocrinologista era só frustração para nós pacientes (família) e para o médico, e falando por mim em especial, só me sentia mais incapaz e inadequada, como se tivesse algo de errado comigo, e assim meu movimento era querer me afastar ainda mais do consultório médico e de qualquer assunto que tivesse a ver com o diabetes.
Falo isso porquê o diabetes foi tratado como uma condição estritamente física, mas o diabetes, assim como outras condições crônicas, é uma condição psicológica pois traz medos, frustrações, tristezas a tona e esses sentimentos se não forem olhados, não permitirão que a pessoa tenha uma vida saudável; o diabetes é uma condição social, no sentido que afeta relacionamentos familiares, amorosos, e coisas simples do dia a dia, como por exemplo, um jovem evitar medir a glicose na escola por não querer parecer diferente diante dos outros; o diabetes é uma condição espiritual, sim porquê no processo de aceitação da condição se você têm alguma fé e entende que esse evento na sua vida não é por acaso e poderá possivelmente ser uma alavanca de crescimento você se recupera muito mais rápido; esses são alguns entre tantos outros aspectos que permeiam o tratamento do diabetes, e outras condições crônicas, por isso a saúde não pode ser tratada de forma linear porque ela não é linear.
O conceito de saúde integral não é só um conceito “bonito”, ele precisa ser praticado. Eu costumo olhar para a saúde dentro de algumas categorias que chamo de essenciais: Saúde física, Saúde espiritual (autoconhecimento e fé), Saúde emocional, Saúde social (relacionamentos) e Saúde ambiental (seu próprio ambiente, onde vive, onde trabalha etc). Vale aqui acessarmos quais dessas áreas estão “capengas” e quais estão sendo nutridas para construirmos uma vida verdadeiramente saudável no sentido mais amplo da palavra.
Pode parecer complexo se cuidar de forma tão integral nos dias de hoje que não temos tempo, ou acreditamos que não temos tempo para nada, mas a pergunta que sempre faço para um cliente que me procura pois está em desalinhamento interno, sentindo-se sem vitalidade e sem saúde, e ele me coloca a questão da falta de tempo é: “Você não tem tempo, eu entendo, mas você tem tempo para continuar se sentindo assim? “, porque sentir-se dessa forma, tira muita energia das outras coisas.
Eu sei bem que o fator tempo é uma limitante e passo por esse desafio na minha própria vida, mas a verdade é que estamos fazendo escolhas quanto ao nosso tempo a todo instante, por exemplo, Assistir televisão, ou fazer uma caminhada? Checar o facebook só mais uma vez ou fazer aquele exercício de respiração que a gente se propôs para ajudar com a ansiedade? Comer no fast food, ou parar meia hora para almoçar num ambiente mais tranquilo e saudável?
O que precisamos perceber é que a cada escolha estamos construindo nossa saúde, pois a saúde e a felicidade não é algo estático, mas sim fluído, e nesse caminho, cada escolha conta!